segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Os dragões não conhecem o paraíso

in DRACONOMICON - Wizards Of The Coast


"Tenho um dragão que mora comigo...

Não, isso não é verdade.

Não tenho nenhum dragão.

E, ainda que tivesse, ele não moraria comigo nem com ninguém.

Para os dragões, nada mais inconcebível que dividir seu espaço

- seja com outro dragão, seja com uma pessoa banal feito eu.

Ou invulgar, como imagino que os outros devam ser.

Eles são solitários, os dragões.

Quase tão solitários quanto eu me encontrei,

sozinho neste apartamento, depois de sua partida.

Digo quase porque, durante aquele tempo em que ele esteve comigo,

alimentei a ilusão de que meu isolamento para sempre tinha acabado.

E digo ilusão porque, outro dia,

numa dessas manhãs áridas da ausência dele,

felizmente cada vez menos freqüentes (a aridez, não a ausência),

pensei assim: Os homens precisam da ilusão do amor

da mesma forma que precisam da ilusão de Deus.

Da ilusão do amor

para não afundarem no poço horrível da solidão absoluta;

da ilusão de Deus,

para não se perderem no caos da desordem sem nexo.

Os dragões não permanecem.

Os dragões são apenas a anunciação de si próprios.

Eles se ensaiam eternamente, jamais estréiam.

As cortinas não chegam a se abrir para que entrem em cena.

Eles se esboçam e se esfumam no ar, não se definem.

O aplauso seria insuportável para eles:

a confirmação de que sua inadequação

é compreendida e aceita e admirada,

e portanto - pelo avesso igual ao direito -

incompreendida, rejeitada, desprezada.

Os dragões não querem ser aceitos.

Eles fogem do paraíso,

esse paraíso que nós, as pessoas banais, inventamos

- como eu inventava uma beleza de artifícios para esperá-lo

e prendê-lo para sempre junto a mim.

Os dragões não conhecem o paraíso,

onde tudo acontece perfeito e nada dói nem cintila ou ofega,

numa eterna monotonia de pacífica falsidade.

Seu paraíso é o conflito, nunca a harmonia.

Então quase vomito e choro e sangro quando penso assim.

Mas respiro fundo,

esfrego as palmas das mãos, gero energia em mim.

Para manter-me vivo,

saio à procura de ilusões como o cheiro das ervas

ou reflexos esverdeados de escamas pelo apartamento

e, ao encontrá-los, mesmo apenas na mente,

tornar-me então outra vez capaz de afirmar,

como num vício inofensivo: tenho um dragão que mora comigo.

E, desse jeito, começar uma nova história que, desta vez sim,

seria totalmente verdadeira,

mesmo sendo completamente mentira.

Fico cansado do amor que sinto, e num enorme esforço

que aos poucos se transforma numa espécie de modesta alegria,

tarde da noite, sozinho neste apartamento

no meio de uma cidade escassa de dragões,

repito e repito este meu confuso aprendizado

para a criança-eu-mesmo sentada aflita e com frio nos joelhos

do sereno velho-eu-mesmo:- Dorme, só existe o sonho.

Dorme, meu filho.

Que seja doce.

Não, isso também não é verdade..."



in Os dragões não conhecem o paraíso, de Caio Fernado Abreu

Trilhos da Lobagueira - Encarnação

Tive conhecimento desta interessante proposta a realizar na chamada zona saloia. Aqui fica para quem gosta deste tipo de actividades:














"Conhece a parte norte do concelho de Mafra?
Sabia que a antiga designação da Encarnação era "Lobagueira dos

Lobatos" e as primeiras referências remontam ao reinado de D. Afonso

Henriques? Está a ficar curioso?

Venha descobrir connosco mais um pouco dos antigos trilhos agrícolas,

das encostas escarpadas, o verde do arvoredo e o azul do Atlântico.
Estamos a organizar o IV passeio BTT e o I pedestre denominado

"Trilhos da Lobagueira 2010". Não menos importante temos também a

opção de passeio e almoço com porco e vitela no espeto.



Convidamo-lo a participar a pé ou de bicicleta no dia 05 de Setembro

nos "Trilhos da Lobagueira 2010", para uma jornada de desporto,

convívio e aventura.



Para informações e inscrições visite-nos em http://www.lobagueirabtt.com/ "

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Excertos do livro “O Guia para Gatos sobre Seres Humanos”

Estes são alguns excertos do livro “Guia sobre Seres Humanos para Gatos” que foi encontrado na posse de um gato.

Sirius e Scaramouche

Porque precisamos dos humanos?
Decidiste adquirir um humano. Ao fazê-lo, acabas de te juntar aos milhões de outros gatos que adquiriram estas estranhas e por vezes frustrantes criaturas. Vão existir inúmeros momentos, durante o período de associação com humanos, em que te vais questionar por que motivo te deste ao trabalho de os agraciar com a tua presença.

O que há de tão bom em ter um humano? Porque não passar o tempo com outros gatos? Os nossos maiores filósofos debateram-se com esta questão durante séculos, mas na verdade, a resposta é simples:

Eles têm polegares oponíveis.

O que os torna na ferramenta perfeita para desempenhar tarefas como abrir portas, tampas, latas, mudar o canal de televisão e outras tarefas que nós, apesar das nossas óbvia superioridade, temos dificuldade em fazer sozinhos. Os chimpanzés, orangutangos e lémures também têm polegares oponíveis, mas não são tão fáceis de treinar.



Como e Quando Obter a atenção do Humano
Os humanos frequentemente assumem de forma errada que há outras tarefas mais importantes do que responder às nossas necessidades imediatas, tais como cuidar dos negócios, passar tempo com a família ou até dormir.

Apesar deste terrível inconveniente, podes conseguir fazer com que isto seja uma vantagem para ti, chateando o humano na altura em que mais está ocupado. Geralmente é-lhes tão frustrante que fazem o que queres, só para se ver livre de ti. Não coincidentemente, os humanos jovens seguem a mesma prática.

Aqui estão alguns métodos testados e eficazes para fazer com que o humano te obedeça:

Sentares-te no papel – Velha, mas resulta. Se o humano tem um papel em frente dele, é provável que seja algo que eles considerem mais importante do que tu. É provável que te ofereçam uma guloseima para te mandar embora. Estabelece a tua supremacia sobre este derivado de madeira em todas as oportunidades que tenhas. Esta prática funciona bem com teclados de computador, controlos remotos, chaves do carro e crianças pequenas.

Acordar o humano a horas estranhas – O melhor tempo de um gato é entre as 3h30 e as 4h30 da manhã. Ao colocar a pata sobre a cara adormecida do teu humano, tens melhores hipóteses de que o humano se levante e, num estado incoerente, faça exactamente aquilo que queres. Podes mesmo ter de arranhar os dorminhocos mais profundos para conseguir a atenção deles. Lembra-te de variar o local onde arranhas para evitar que o humano fique desconfiado.



Castigar o Ser Humano
Por vezes, apesar dos teus melhores esforços, o seu Ser Humanos vai teimosamente resistir a realizar a tua vontade. Nestas circunstâncias extremas, podes ter de punir o teu Ser Humano. Castigos óbvios, tais como arranhar a mobília ou comer as plantas, vão provavelmente dar para o torto – os humanos pouco sofisticados provavelmente interpretam mal estas actividades e podem tentar disciplinar-te a ti. Em alternativa, oferecemos estas subtis mas eficazes opções:


* Usa a caixa de areia durante um jantar formal importante;

* Fixa o olhar no teu humano enquanto ele tenta um interlúdio romântico;

* Coloca-te em cima de um aparelho electrónico importante e simula um ataque de bolas de pêlo;

* Depois do teu humano ver um filme de terror particularmente perturbante, coloca-te no corredor e avança lentamente, a bufar e a miar;

* Enquanto o teu humano está a dormir, deita-te na cara dele.



Recompensar o Humano: Os teus presentes devem estar vivos?
O mundo dos gatos está dividido no que diz respeito à etiqueta de presentear o humano com um animal recentemente estripado. Alguns acreditam que os humanos preferem a prenda já morta, enquanto outros mantém que os humanos gostam tanto como nós de ver um grilo ou roedor a morrer lentamente, dado os seus saltos e movimentos brincalhões ao pegarem nas criaturas depois de terem sido presenteados.

Depois de muito ponderar sobre a psique humana, recomendamos que o animal de sangue frio (grandes insectos, rãs, lagartos, cobras e ocasionalmente minhocas) devem ser oferecidos mortos, enquanto que os animais de sangue quente (aves, roedores e o Lulu da Pomerânia do vizinho) são mais apreciados vivos. Quando vires a expressão da cara do teu humano, sabes que valeu a pena.

Durante quanto tempo deves manter o humano?
Tens a obrigação para com o teu humano de o manter durante uma das tuas nove vidas. As restantes oito, és tu que decides. Recomendamos variar, embora em última análise, a maioria dos humanos (pelo menos aqueles com quem vale a pena viver) são todos iguais. Mas que esperavas? Afinal, são humanos. Os polegares oponíveis só os permitem ir até determinado ponto.”
 
 
retirado de http://arcadenoe.sapo.pt/artigo/excertos_do_livro_o_guia_para_gatos_sobre_seres_humanos_/602

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O Herdeiro de OZ - Gregory Maguire

Passados dez anos da publicação d' A Bruxa de OZ, Gregory Maguire lançou O Herdeiro de Oz. Ora, felizmente, só tive contacto com este autor recentemente (obrigada P.J.!), pois ler só uma das suas obras iria deixar o sabor a pouco!
Não sendo uma saga muito conhecida, os livros começam por atrair pelas suas capas com ar de fantasia algo negra (ideal para quem gosta de Tim Burton), quanto às histórias...bem, vou remeter-me um pouco mais à Bruxa de Oz, pois só ontem peguei no "seu herdeiro".
Começa por cativar o leitor pelas suas descrições extremamente vividas e sensoriais (excelente passagens de texturas, cores e ambiente!), numa história aparentemente para crianças/adolescentes (só aparencia, eu não recomendo a crianças!), mas que acaba por ganhar contornos tão reais, com uma densidade humana tão dura, que é impossível não nos sentirmos surpreendidos pelo seu desenrolar, inesperado e estranhamente desligado dos contos de fadas habituais, mas sim da vida quotidiana, onde questões politicas, sociais e passionais influenciam quem somos, onde convivemos com a morte, o nascimento e todas as facetas mais ou menos belas do ser humano.
Com semelhanças ao regime fascista/nazi vivido no "nosso" universo, este mundo fantástico apresenta inúmeras criticas passíveis de serem entendidas e transpostas para o nosso... Uma coisa é certa, quem lê deixa de ver o Feiticeiro de Oz da maneira como via....
Boas leituras!

Página do autor

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Inércia...



Aqueles dias de inércia, lentidão... Horas esquecidas tão mal empregues no nada! Quem já não vivenciou momentos assim? Pois eis-me hoje! Inútil, sinto-te totalmente e sonolentamente inútil! E como criatura auto-exigente que sou, irrito-me comigo mesma por assim estar...Ou melhor, fico quaaaaaaaaaaase irritada, a passividade é demasiada para algo tão energético como irritar-me!