quarta-feira, 19 de março de 2008

Recordações de infância


Tardes solarengas passadas com a minha mãe...ambas sentadas no chão da sala do 1º andar, o chão de tacos de madeira forrado com folhas desdobradas de panfletos coloridos de supermercados. Sobre elas, os vasos e o saco de terra.

A missão era reenvasar alguma planta cuja raízes cresceram demais para o pequeno vaso onde se encontravam (será o paralelo à nossa humana busca de novos horizontes? Uma incessante busca de novos conhecimentos, novos espaços, novos sais minerais para a alma?).Um vaso maior, cacos para o fundo ou apenas papel e terra para o ocupar o espaço vazio e "voilá"!



Outras vezes, mais raras, a missão era mais arrojada: semear um bolbo ou uma estaca! Algo novo que se origina de qualquer coisa velha (sem qualquer conotação negativa no "velha")...



São recordações que confortam, relaxam e acarinham... Tenho gravadas a imagem do reflexo do sol no soalho, a sensação do ar fresco vindo da varanda de portas abertas, o meu sentir de aprendiz a ver uma grande maga realizar a sua magia.



Hoje sou eu que coloco as folhas no chão da minha sala, num estranho ritual sem o notar. Não recebo o maravilhoso e acolhedor sol do Algarve e infelizmente a minha casa em Lisboa não tem a sala mais iluminada... Mas tenho vasos, terra e papeis. Sementes, bolbos e estacas! Alguns apetrechos mais, porque o tecnicismo assim o pediu. Tenho, também, alguma dificuldade acrescida: uma gata marada a atacar tudo o que é verde e tudo o que é terra. E na verdade todas as sementes e até as minhas mãos. Doce criatura demoníaca!



Mas é com orgulho que a cada pessoa, amigo ou conhecido, que vem ao meu "lar, caótico lar", passado o embaraço pela desarrumação quase constante, faço então uma visita guiada pela varanda, atravessando o meu quarto-gincana. Mostro a pequena estufa, o canteiro das trepadeiras, a zona das plantas aromáticas e os restantes canteiros e vasos e os planos que contêm. Não falo de um quintal, mas de uma muito organizada varanda de prédio.



Depois retomo à sala, onde explico a minha colecção de orquídeas e restantes plantas existentes.



Outrora aprendiz, hoje sou um pouco mais.



Os nossos pais são o nosso espelho e nós o seu reflexo, mesmo que por vezes essa imagem seja de difícil percepção. É um pensamento assustador quando juntamos a crise de gerações ("que roupa é essa?!" ouvi tantas vezes...), mas após uma introspecção distanciada vemos o quanto herdamos...até a desarrumação (estou convencida, portanto, que com o tempo serei mais organizada, não totalmente, mas um pouco mais!).

segunda-feira, 17 de março de 2008

Viagens...





Viajar permite-nos explorar, crescer e, porque não dizê-lo, valorizar a nossa terra e base de vivências. Como tal, começo por recordar uma das minhas melhores viagens, uma autêntica road-trip pela Galiza.

No meio do caos onde se encontravam as nossas vidas (chaminés a ruir incluídas), um único, heterogéneo e estranho grupo de amigos resolveu ir à aventura no curto tempo disponível. Perdemo-nos, delirámos, encontrámos um pouco mais do que somos...
Fomos na nossa pequena "peregrinação", sem rota traçada, sem reservas feitas. Passámos por praias fabulosas, outras nem tanto, fomos atacados por gaivotas (animais ferozes, esses), tivemos o nosso momento espiritual em Santiago de Compostela (talvez espiritual não seja a palavra certa), dançámos nas ruas, dormimos em tendas e beliches, assustámo-nos com o poder dos dolmens no meio da noite e vimos a tristeza de uma paisagem queimada.
Como recepção calorosa à nossa terra passámos pelo nosso maravilhoso Alto Trás-os-Montes. Tivemos os melhores anfitriões (o meu eterno obrigada!) e tendo como pano de fundo aquela maravilhosa vegetação e aldeia (Montalegre, um tesouro escondido) ganhei o gosto e saudade daqueles cogumelos.
Foi em 2006 que partimos, mas não é raro lá voltar, basta uma fotografia, uma conversa, um prato de tapas...