quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Que farás tu, meu Deus, se eu perecer?

Andava eu a desbravar um pouco mais da vida de Rilke, quando encontrei este interessante poema... Afinal, e como Rilke, acredito que Deus está presente em todas as coisas, sem barbas, sem manto, sem julgamento final... esse morre com quem o acredita.







Que farás tu, meu Deus, se eu perecer?



Que farás tu, meu Deus, se eu perecer?

Eu sou o teu vaso - e se me quebro?

Eu sou tua água - e se apodreço?

Sou tua roupa e teu trabalho

Comigo perdes tu o teu sentido.
Depois de mim não terás um lugar

Onde as palavras ardentes te saúdem.

Dos teus pés cansados cairão

As sandálias que sou.

Perderás tua ampla túnica.

Teu olhar que em minhas pálpebras,

Como num travesseiro,

Ardentemente recebo,

Virá me procurar por largo tempo

E se deitará, na hora do crepúsculo,

No duro chão de pedra.
Que farás tu, meu Deus? O medo me domina.



Rainer Maria Rilke,1902.

(Tradução: Paulo Plínio Abreu)

1 comentário:

Anónimo disse...

O advogado da cidade de Timbaúba-PE escreveu um poema que parece inspirado nesse poema de Rilke, de extraordinária espiriualidade. Será coincidencia ou plágio?
'Tenho pena de Deus, que me perderá
Autor José Gilvan Felinto Silva

O que será de Deus
Quando eu morrer?
Quem irá procurar
Nas tuas ruas
Suas pegadas para seguir?
Quem o amará como eu
Sem encontra – las?
Quem ira chorar por Ele,
Sem chorar por si mesmo,
Quando eu morrer, Timbaúba?

Deus sentirá minha falta
Que o amo sem religião
Ou filosofia melhor.

Como tenho pena de Deus,
Que me perderá".