segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O que há em mim é sobretudo cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Évora...

Fim de semana com uma abençoada temperatura...que desculpa melhor para um passeio ao Alentejo?



Menir dos Almendres (Nossa Senhora de Guadalupe/Valverde). Eu sei, eu sei... pornografia neolítica!


Detalhe de um cardo... Beleza em algo tão rude.



Praça do Giraldo...Quando penso na cidade de Évora é o primeiro sitio do qual me recordo... O centro e pulsar da cidade.








O reconhecimento de uma cidade...





...e uma vista romântica sobre o marco histórico de Évora.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Viagem no tempo...


As férias acabaram, mas delas restará sempre a lembrança dos bons dias passados... Não fui de exuberâncias e "apenas" regressei às origens, sendo que voltar a Faro é sempre uma oportunidade para rever sítios e caras, é também ocasião para novas vivências e conhecimentos.
Mas embora uma semana pareça pouco, muito acontece, pelo que por agora me irei restringir aos maravilhosos passeios pela Ilha Deserta...


Haviam passado cerca de dez anos desde a última vez que lá havia ido... O capitão foi o mesmo (único, insubstituível!), e foi com a mesma mestria que saímos do cais de Faro (leia-se Doca). Apenas o barco mudara para evitar naufrágios! A companhia também era excelente, faltava a Patroa, mas ela andava noutras Andanças.



O sol a bater no corpo, a água a salpicar-nos e o vento a mostrar o quanto estamos vivos...Deixámos Faro para trás e penetrámos num mundo de mar e areia, limos e peixes, tudo como eu recordava e que marca o Algarve que é o meu.


O mar estava calmo, cristalino e suave como a estender-se em recepção. A areia quente (a lembrar o quanto andamos calçados no dia-a-dia desnecessariamente) encontrava-se desarrumada como só numa ilha pouco visitada...conchas e pegadas de pássaros misturadas com os restos que o mar ali deposita.


Fomos para uma zona isolada, possível por ser um dia de semana, onde apenas as gaivotas eram nossas testemunhas. Scuba Diving, petiscar, risotas e muito blá blá blá! Estar numa ilha e não ver vivalma...





"Perdi-me" no meu momento e ali me encontrava, semi-imersa e rodeada de pequenos peixes, caranguejos e outros. Sozinha, isolada e tão preenchida!


O tempo voa naquelas bandas e rapidamente era hora de voltar... até porque dependia da maré podermos passar debaixo da ponte de acesso ao cais. O sol acompanhava-nos a descer no horizonte e a Cidade Velha dava as boas vindas.




De volta a terra.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Varanda alheia




Fotografias da varanda da minha mãe

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Macros...



Não tenho passeado muito a máquina, por isso cá vai um ataque à varanda...

terça-feira, 27 de maio de 2008

Start Wearing Purple

Por razões de indumentária...



Start wearing purple wearing purple
Start wearing purple for me now
All your sanity and wits they will all vanish
I promise, it's just a matter of time...

So yeah, ha

Start wearing purple wearing purple (da da da da da)
Start wearing purple for me now
All your sanity and wits they will all vanish
I promise, it's just a matter of time...

I've known you since you were a twenty, and I was twenty,
and thought that some years from now
a purple little little lady will be perfectf
or dirty old and useless clown...

So yeah, ha

Start wearing purple wearing purple (da da da da da)
Start wearing purple for me now
All your sanity and wits they will all vanish
I promise, it's just a matter of time...

So yeah, I know it all from Diogenes to the Foucault
from Lozgechkin to Passepartout
I ja kljanus obostzav dva paltza
schto ti ha schto muzika poshla a zvuk gavno!

Start wearing purple wearing purple (da da da da da)
Start wearing purple for me now
Start wearing purple for me now!
All your sanity and wits they will all vanish
I promise, it's just a matter of time...

So Vio-Vio-Violetta! Etta! Va-va-va-vaja dama ti moja!
Eh podayte nam karetu, vot etu, i mi poedem k ebenjam!

So yeah, ah start wearing purple wearing purple
Start wearing purple for me now
All your sanity and wits, they will all vanish
I promise, it's just a matter of time!...

Gogol Bordello

terça-feira, 20 de maio de 2008

A Ponte da Cidade Velha de Faro

A Ponte da Cidade Velha de Faro... A Ponte!!! Se A Ponte falasse...
Meus amigos, por escassez de material e devido aos quase 300km, venho pedir-vos fotografias desta mágica ponte (quem por lá passou sabe do que falo...aqueles degraus a desintegrarem-se Ria Formosa adentro... Infelizmente, não é só metaforicamente que o digo...).. e histórias lá passadas (porque não?!)...

terça-feira, 29 de abril de 2008

Primavera!!!

"É Primavera agora, meu Amor!
O campo despe a veste de estamenha;
Não há árvore nenhuma que não tenha
O coração aberto, todo em flor!"

Florbela Espanca

Já dizia a Florbela, aquela cujo nome não nos criava arrepios até há poucos anos...Agora parece impossível não associar a uma voz irritante cheia de fadinhas e florzinhas e coisas burrinhas...
Mas voltando à quadra em questão, devo dizer que não sou uma fã da Florbela Espanca, nunca fui, mesmo na fase adolescente dos poemas trágico-apaixonados... Mas esta quadra traz-me recordações especificas de tempos idos em que representei numa peça onde eram declamados diversos poemas da Florbela Espanca.. Verdade é que desde então não passou uma Primavera onde a minha voz mental não começasse a declamar esta quadra com uma voz digna da Mona Lisa... ou então:

"Há uma primavera em cada vida:
é preciso cantá-la assim florida,
pois se Deus nos deu voz, foi para cantar!"


...Também da dita senhora... Mas se é verdade que a Primavera é a estação do Amor, tão bem pintado pela poetiza, deixo-vos com um último poema, da Espanca, pois então, fiel representante da Primavera na sua versão mais "apaixonada"...os passarinhos andam no ar e tal... Enfim, sejam gráficos!!!

A tua voz na primavera

Manto de seda azul, o céu reflete
Quanta alegria na minha alma vai!
Tenho os meus lábios úmidos: tomai
A flor e o mel que a vida nos promete!
Sinfonia de luz meu corpo não repete
O ritmo e a cor dum mesmo beijo... olhai!
Iguala o sol que sempre às ondas cai,
Sem que a visão dos poentes se complete!
Meus pequeninos seios cor-de-rosa,
Se os roça ou prende a tua mão nervosa,
Têm a firmeza elástica dos gamos...
Para os teus beijos, sensual, flori!
E amendoeira em flor, só ofereço os ramos,
Só me exalto e sou linda para ti!


Florbela Espanca

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Palavras para quê?






"Eu acredito em Deus, só que lhe chamo Natureza"






Frank-Lloyd Wright



(1867-1959)

terça-feira, 1 de abril de 2008

Páscoa no Luso ou o meu aniversário




Ter o aniversário num fim-de-semana prolongado (viva o cristianismo!!!) é sempre um bom motivo para fazer as malas e zarpar para qualquer recanto... Tomada a difícil decisão de que sitio visitar, decidimo-nos pela Serra do Buçaco, em particular o Luso que, confesso, não conhecia até à altura. Roupa arrumada, material de desenho empacotado, máquina fotográfica com bateria carregada e rumo à Serra... Na verdade chegar lá não foi assim tão linear, pois a Páscoa pode traduzir-se, entre outras coisas (folar, amêndoas, etc) em inúmeros acidentes e trânsito parado na autoestrada. O Hotel do Luso é fantástico, tenho de referir, embora nos destacássemos por não estarmos particularmente interessados nas termas (erro nosso, claro), fomos bem recebidos e acabou por ser a nossa base enquanto nos aventurávamos pelas redondezas.





No dia seguinte partimos para Arganil..Terra simpática e bem tratada, onde fiz de turista tirando fotografias a canteiros, de rabo espetado em plena rua principal. Passámos por Secarias, lugar de uma beleza mágica e visitámos Meda de Mouros, onde o sentimento de "somos de fora" que nos é transmitido é suplantado pela paisagem do miradouro.





Ainda no mesmo dia, visitámos Coja (quem por lá passa tem de parar!) e a Fraga de Pena onde as quedas de água e toda a vegetação transmitem uma calma característica. Admito que não explorei todos os caminhos, pois com a minha "aptidão" para quedas, subir os degraus rombos talhados na pedra não seria de todo sensato.





O Sábado ficou condicionado pelo tempo: chuva e ventos fortes. Mesmo assim, fomos visitar o Palace Hotel em plena Serra do Buçaco. Na ida, passámos pela Cruz Alta (fotografar àquela altitude e com o vento que fazia não foi fácil), onde destaco, obviamente, a paisagem e a sensação de pequenez humana a conquistar alturas. O Palace Hotel em si é fantástico, digno de um conto de príncipes e princesas. Encontra-se rodeado por um jardim cuidadosamente desenhado que, como se vê nas fotografias, apaixonou-me. Repleto de camélias e magnólias em flor, as flores e folhas caídas tornavam cada passo um pisar de cores.





Já no Domingo e de regresso a casa, fizemos uma passagem-relâmpago por Coimbra. Era o meu aniversário e voltar já era saudosista. Fui então levada a Tomar, cidade que conheço e de cujos encantos não me canso. Porém, já me questionava o porquê de tanto tempo de paragem quando, surgindo do nada (pensava eu) vejo os meus amigos da "velha guarda"...Dos mais diversos pontos do nosso país, juntaram-se para me surpreender com um bilhete para uma peça de teatro no Convento de Cristo do grupo Fatias de Cá. O monumento é riquíssimo, a peça foi fabulosa (actores, texto e estrutura) e os meus amigos são, sem dúvida, uns "amigos do Bufo".





quarta-feira, 19 de março de 2008

Recordações de infância


Tardes solarengas passadas com a minha mãe...ambas sentadas no chão da sala do 1º andar, o chão de tacos de madeira forrado com folhas desdobradas de panfletos coloridos de supermercados. Sobre elas, os vasos e o saco de terra.

A missão era reenvasar alguma planta cuja raízes cresceram demais para o pequeno vaso onde se encontravam (será o paralelo à nossa humana busca de novos horizontes? Uma incessante busca de novos conhecimentos, novos espaços, novos sais minerais para a alma?).Um vaso maior, cacos para o fundo ou apenas papel e terra para o ocupar o espaço vazio e "voilá"!



Outras vezes, mais raras, a missão era mais arrojada: semear um bolbo ou uma estaca! Algo novo que se origina de qualquer coisa velha (sem qualquer conotação negativa no "velha")...



São recordações que confortam, relaxam e acarinham... Tenho gravadas a imagem do reflexo do sol no soalho, a sensação do ar fresco vindo da varanda de portas abertas, o meu sentir de aprendiz a ver uma grande maga realizar a sua magia.



Hoje sou eu que coloco as folhas no chão da minha sala, num estranho ritual sem o notar. Não recebo o maravilhoso e acolhedor sol do Algarve e infelizmente a minha casa em Lisboa não tem a sala mais iluminada... Mas tenho vasos, terra e papeis. Sementes, bolbos e estacas! Alguns apetrechos mais, porque o tecnicismo assim o pediu. Tenho, também, alguma dificuldade acrescida: uma gata marada a atacar tudo o que é verde e tudo o que é terra. E na verdade todas as sementes e até as minhas mãos. Doce criatura demoníaca!



Mas é com orgulho que a cada pessoa, amigo ou conhecido, que vem ao meu "lar, caótico lar", passado o embaraço pela desarrumação quase constante, faço então uma visita guiada pela varanda, atravessando o meu quarto-gincana. Mostro a pequena estufa, o canteiro das trepadeiras, a zona das plantas aromáticas e os restantes canteiros e vasos e os planos que contêm. Não falo de um quintal, mas de uma muito organizada varanda de prédio.



Depois retomo à sala, onde explico a minha colecção de orquídeas e restantes plantas existentes.



Outrora aprendiz, hoje sou um pouco mais.



Os nossos pais são o nosso espelho e nós o seu reflexo, mesmo que por vezes essa imagem seja de difícil percepção. É um pensamento assustador quando juntamos a crise de gerações ("que roupa é essa?!" ouvi tantas vezes...), mas após uma introspecção distanciada vemos o quanto herdamos...até a desarrumação (estou convencida, portanto, que com o tempo serei mais organizada, não totalmente, mas um pouco mais!).

segunda-feira, 17 de março de 2008

Viagens...





Viajar permite-nos explorar, crescer e, porque não dizê-lo, valorizar a nossa terra e base de vivências. Como tal, começo por recordar uma das minhas melhores viagens, uma autêntica road-trip pela Galiza.

No meio do caos onde se encontravam as nossas vidas (chaminés a ruir incluídas), um único, heterogéneo e estranho grupo de amigos resolveu ir à aventura no curto tempo disponível. Perdemo-nos, delirámos, encontrámos um pouco mais do que somos...
Fomos na nossa pequena "peregrinação", sem rota traçada, sem reservas feitas. Passámos por praias fabulosas, outras nem tanto, fomos atacados por gaivotas (animais ferozes, esses), tivemos o nosso momento espiritual em Santiago de Compostela (talvez espiritual não seja a palavra certa), dançámos nas ruas, dormimos em tendas e beliches, assustámo-nos com o poder dos dolmens no meio da noite e vimos a tristeza de uma paisagem queimada.
Como recepção calorosa à nossa terra passámos pelo nosso maravilhoso Alto Trás-os-Montes. Tivemos os melhores anfitriões (o meu eterno obrigada!) e tendo como pano de fundo aquela maravilhosa vegetação e aldeia (Montalegre, um tesouro escondido) ganhei o gosto e saudade daqueles cogumelos.
Foi em 2006 que partimos, mas não é raro lá voltar, basta uma fotografia, uma conversa, um prato de tapas...